Perspectivas político-clínicas: psicanálise, autismo e a razão neoliberal
DOI:
https://doi.org/10.71101/rtp.50.407Palavras-chave:
psicanálise, discurso capitalista, neoliberalismo, autismo.Resumo
Este artigo objetivou problematizar o estatuto do autismo no contemporâneo, bem como o lugar reservado aos sujeitos autistas em um social atravessado pelos discursos neoliberal e capitalista. Nessa direção, buscou compreender o uso dos significantes "autismo/autista" para representar o momento histórico atual, catalisador do apagamento do outro e da dimensão da alteridade. Para tal, propôs a análise de um vídeo publicitário referente à "jaqueta do abraço", produto destinado a acalmar crianças diagnosticadas autistas. Em um cenário ultraindividualista, imperativo de objetos e carente de laços sociais, o sujeito autista emerge no lugar do estranho, familiar excluído, ao refletir a tendência contemporânea à ausência do Outro, à mesmice e ao isolamento. Ao encarnar o que o social não quer saber, ao autista restam fundamentalmente a exclusão e as propostas de inclusão via adestramento e supressão das diferenças. Em outra direção, a psicanálise propõe uma saída possível do discurso capitalista através da introdução do novo, na sustentação de um desejo que possibilite ao sujeito a pequena singularidade que é sua, que não entra no circuito do discurso.Referências
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