O despertar da adolescência, o suicídio juvenil e as atuais políticas de morte: questões para o campo da educação

Autores

  • Rose Gurski Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) ANPEPP
  • Stéphanie Strzykalski Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
  • Cláudia Maria Perrone Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Palavras-chave:

adolescência, psicanálise, educação, suicídio, políticas de morte.

Resumo

Neste artigo, partimos da noção de que a complexidade dos aspectos clínicos e educacionais apresentada pela adolescência contemporânea evoca questões de ordem ético-política, social e individual. Renovando a aposta na torção irredutível entre o social e o psíquico e, concomitantemente, recusando explicações simplistas de causas puramente orgânicas, buscamos problematizar o aumento preocupante do mal-estar juvenil de nosso tempo, revelado por crescentes índices de depressão e suicídio de jovens brasileiros. De que forma os adolescentes têm vivenciado a mais delicada das passagens subjetivas em meio às configurações do laço atual? O que tais manifestações sintomáticas tem a nos dizer sobre as condições de nosso tempo histórico? O que não vai bem com essa turma que, tantas vezes, insiste em nos perguntar “tá ligado”? Quais interlocuções podem ser pensadas entre a problemática social e o campo da educação? Essas e outras questões foram desdobradas a partir de uma retomada do tema da adolescência na perspectiva psicanalítica. Na sequência, foi analisado um episódio de nossa história recente que, de modo complexo, articula temas como violência, laço social, suicídio, adolescência e ambiente escolar: o Massacre de Suzano. Por fim, recolhendo algumas falas de expoentes políticos de nossa sociedade, buscamos refletir sobre os efeitos psíquicos de uma adolescência vivida em meio à propagação de discursos de ódio assentados em políticas de morte.

Biografia do Autor

Rose Gurski, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) ANPEPP

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Prof. do Departamento de Psicanálise e Psicopatologia e do PPG Psicanálise: Clínica e Cultura (UFRGS). Coordenadora do PPG Psicanálise: Clínica e Cultura (UFRGS). Coordenadora do Núcleo de Pesquisa em Psicanálise, Educação e Cultura (NUPPEC/UFRGS). Membro do GT Psicanálise e Educação ANPEPP.

Stéphanie Strzykalski, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Psicóloga, Mestre em Psicanálise: Clínica e Cultura (UFRGS). Pesquisadora associada ao Núcleo de Pesquisa em Psicanálise, Educação e Cultura (NUPPEC/UFRGS).

Cláudia Maria Perrone, Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)

Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Prof. do Departamento de Psicanálise e Psicopatologia e do PPG Psicanálise: Clínica e Cultura (UFRGS). Coordenadora do Núcleo de Pesquisa em Psicanálise, Educação e Cultura (NUPPEC/UFRGS).

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Publicado

2020-12-23

Edição

Seção

Dossiê - Psicanálise e Educação em tempos de incerteza