Versões do pai na anorexia: da recusa do aperitivo à gula do Supereu
DOI:
https://doi.org/10.71101/rtp.57.881Resumo
Neste artigo, propomos abordar como se articulam duas versões do pai na anorexia, a saber: o pai como aperitivo (a-père-itif) e como Supereu. O pai, que faz a sua entrada na vida psíquica através do mecanismo da incorporação, não pode ter a sua função desatrelada do gozo. Desse modo, de um lado temos o pai em sua versão aperitiva do gozar, que ao saber se servir de um certo gozo (sexual) pode colocar em cena a causa do seu desejo – configurando aí a sua transmissão. Do outro lado, temos o Supereu como a nostalgia de um pai primitivo, de um gozo absoluto e impossível, que submete o sujeito a um imperativo de gozo sem limites. A relação que a anoréxica estabelece com o alimento já nos permite considerar que haveria aí uma dificuldade ou mesmo uma impossibilidade de incorporação do pai em sua versão aperitiva do gozar, tornando improvável que uma perda do objeto (a) se efetive para o sujeito. Então a anorexia denunciaria o que falha na metáfora paterna a partir do retorno do objeto no real; enquanto mantém a boca cheia com o nada, ela expõe as trilhas de um Supereu voraz, que ao invés de funcionar a favor da causa de um desejo, revela-se como puro imperativo de gozo – diga-se de passagem, um gozo autoerótico e canibalístico. Para enriquecer o nosso debate, optamos por também nos valer aqui do filme Tem um vidro sob minha pele (2014) da diretora brasileira Moara Passoni. Assim, realizamos aproximações e tensionamentos entre os elementos cinematográficos e as discussões teórico-clínicas da psicanálise que muito contribuíram para uma elucidação acerca das versões do pai na anorexia.
Palavras-chave: Anorexia, versões do pai, aperitivo, Supereu, gozo.