A construção da parentalidade diante do diagnóstico em bebês: da indefinição à nomeação

Autores

  • Maycon Andrade Fraga Universidade de São Paulo - USP
  • Helena Maria Medeiros Lima Universidade de São Paulo - USP
  • Maria Cristina Machado Kupfer Universidade de São Paulo - USP

Palavras-chave:

parentalidade, diagnóstico de bebês, psicanálise, atuação do psicanalista

Resumo

O presente artigo parte de uma experiência de um psicólogo e psicanalista em uma instituição pública de saúde, no setor de estimulação e intervenção precoce, para discutir a construção da parentalidade daqueles pais que possuem um filho com atraso no desenvolvimento e cujo diagnóstico ainda não foi nomeado pela medicina. Para tanto, articula-se parentalidade e laço social para discorrer acerca do efeito da nomeação do diagnóstico médico na assunção da posição parental. Em seguida, analisam-se os eventuais efeitos psicológicos nos pais diante da espera e da revelação do diagnóstico: o sofrimento e o luto. Assim, serão apresentadas duas vinhetas clínicas em que se explicita o manejo do psicanalista e os desdobramentos no fluxo institucional. Ao se considerar a clínica psicanalítica com bebês, sugere-se que a indefinição e a nomeação do diagnóstico têm diferentes desdobramentos no enlace entre pais e filhos, o que não significa que necessita ser rechaçado, pois aqui consideramos um aspecto inerente ao atendimento clínico dessas crianças na prática institucional. Conclui-se ressaltando a necessária presença de um analista nesse momento de passagem e nomeação do diagnóstico.

Biografia do Autor

Maycon Andrade Fraga, Universidade de São Paulo - USP

Psicanalista. Psicólogo. Mestrando em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IP-USP). Especialista em Psicanálise e Saúde pelo Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein. Pesquisador do grupo “Psicanálise e Intervenções Escolares” (IP-USP e FE-USP) e do grupo "Gemelar" (LABPSI-USP e Instituto Sedes Sapientiae). Membro do Laboratório de Psicanálise, Saúde e Instituição (LABPSI-USP).

Helena Maria Medeiros Lima, Universidade de São Paulo - USP

Psicanalista, PhD em Saúde Pública e Bióloga pela USP, Pós-Doutora em Educação: Psicologia da Educação, Mestre em Psicologia Social e Psicóloga pela PUC/SP; Pesquisadora do Laboratório de Teoria Social, Filosofia e Psicanálise - LATESFIP/USP; Coordenadora e Docente do curso Fundamentos da Psicanálise - Moçambique; Docente do Instituto de Ensino de Psicanálise e Educação - ESPE; psicóloga clínica na Folha de São Paulo e supervisora do projeto Ombro Amigo na GM - General Motors do Brasil.

Maria Cristina Machado Kupfer, Universidade de São Paulo - USP

Psicanalista, professora titular senior do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo e fundadora do Lugar de Vida - Centro de Educação Terapêutica.  É bolsista de produtividade do CNPq. Co-fundadora do Lepsi — Laboratório Interunidades de Estudos e Pesquisas Psicanalíticas e Educacionais sobre a infância, IP-FE/USP. Membro da Association Analyse Freudienne, na França, e editora da Revista “Estilos da Clínica” (USP). 

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Publicado

2023-09-29

Como Citar

Fraga, M. A., Lima, H. M. M., & Kupfer, M. C. M. (2023). A construção da parentalidade diante do diagnóstico em bebês: da indefinição à nomeação. Revista Tempo Psicanalítico, 55, 398–431. Recuperado de https://www.tempopsicanalitico.com.br/tempopsicanalitico/article/view/666

Edição

Seção

Artigos