Desafios do enlace teórico / técnico na clínica do abuso sexual infantojuvenil

Autores

  • Cassandra Pereira França Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG
  • Cynthia da Conceição Tannure Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG
  • Danielle Pereira Matos Rabelo Faculdade Arnaldo Jansen

DOI:

https://doi.org/10.71101/rtp.50.424

Palavras-chave:

relações objetais arcaicas, clínica ampliada, incesto, abuso sexual.

Resumo

O presente artigo descreve o trabalho desenvolvido em um projeto de pesquisa e extensão da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), que atende crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual. Serão relatadas as conclusões de duas teses inspiradas na escuta dos pacientes acompanhados por esse Projeto, e por meio das quais é possível destacar alguns limites presentes na construção da clínica da violência sexual: a realidade dos cuidados negligentes e violentos, aliada à atualização de elementos arcaicos provenientes das primeiras relações objetais, que não tiveram chances de elaboração. Tal cenário é apresentado, inicialmente, no contexto das relações fraternas incestuosas, que denunciam obstáculos na introjeção de objetos reasseguradores e continentes das angústias provenientes das mudanças corporais impostas pela puberdade. Em seguida, apresentaremos alguns limites relacionados à precariedade dos vínculos de confiança que reverberam os moldes primitivos das relações das mães com seus filhos frente às histórias de abuso sexual intrafamiliar. Tais pesquisas, ao pensar a problemática do cuidado, apontam para a necessidade de que os estudos e as intervenções na área da violência sexual infantojuvenil contemplem o conjunto de fatores associados à produção do sofrimento humano, tais como os problemas de ordem social e econômica, articulados aos elementos intrapsíquicos. Vimos ressoar esses esforços na proposta da clínica ampliada, na medida em que foi preciso fortalecer a visão integrada e multidimensional do sujeito com o qual trabalhamos.

Biografia do Autor

Cassandra Pereira França, Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG

Doutora em Psicologia clínica pela PUC-SP, onde também realizou o Pós-doutoramento; Professora de graduação e Pós-graduação do curso de Psicologia da UFMG, Coordenadora do Curso de Especialização em Teoria Psicanalítica e do projeto de Pesquisa e extensão com crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual (CAVAS/UFMG). Autora dos livros Ejaculação precoce e disfunção erétil: uma abordagem psicanalítica (Casa do Psicólogo, 2001), Disfunções sexuais (Coleção Clínica Psicanalítica, Casa do Psicólogo, 2005), Nem sapo nem princesa: terror e fascínio pelo feminino (Blucher, 2017) e organizadora dos livros Perversão: variações clínicas em torno de uma nota só (Casa do psicólogo, 2005), Estilos do xadrez psicanalítico: a técnica em questão (Imago, 2006), Perversão: as engrenagens da violência sexual infantojuvenil (2010), Tramas da perversão: a violência sexual intrafamiliar (Escuta, 2014) e Ecos do silêncio: reverberações do traumatismo sexual (Blucher, 2017).

Cynthia da Conceição Tannure, Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG

Graduada em Psicologia (UFMG). Mestre e Doutora em Psicologia pela Universidade Federal de Minas Gerais , na área de concentração Estudos Psicanalíticos . Supervisora clínica do Projeto de Pesquisa e Extensão com crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual (CAVAS), da UFMG. Professora e supervisora de estágio do curso de Psicologia da Faculdade Arnaldo Jansen.

Danielle Pereira Matos Rabelo, Faculdade Arnaldo Jansen

Graduada em Psicologia pela UFMG. Mestre e Doutora em Psicologia (UFMG) na área de concentração Estudos Psicanalíticos. Supervisora clínica do Projeto de Pesquisa e Extensão com crianças e adolescentes vítimas de abuso sexual (CAVAS), da UFMG. Professora e supervisora de estágio do curso de Psicologia da Faculdade Arnaldo Jansen.

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Publicado

02-12-2018

Como Citar

França, C. P., Tannure, C. da C., & Rabelo, D. P. M. (2018). Desafios do enlace teórico / técnico na clínica do abuso sexual infantojuvenil. Revista Tempo Psicanalítico, 50(2), 373–400. https://doi.org/10.71101/rtp.50.424

Edição

Seção

Dossiê

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