Uma leitura psicanalítica sobre o corpo e as ressonâncias da violência sexual na infância
Palavras-chave:
corpo, violência sexual, incesto, infância, psicanáliseResumo
Este estudo baseou-se na teoria psicanalítica e, a partir da construção de um caso clínico, teve o objetivo de analisar o corpo enquanto lócus de expressão do sofrimento psíquico após a vivência de uma experiência traumática como a violência sexual incestuosa na infância. A paciente Lis, aos dezoito anos, foi encaminhada para acompanhamento psicológico após realizar a denúncia de violência física, psicológica e sexual contra o pai biológico. Os atendimentos perduraram por dois anos e a dimensão corporal emergiu como aspecto privilegiado de análise. As manifestações corporais da paciente desvelavam as experiências emocionais excluídas do seu discurso e se destacavam em suas formações sintomáticas. Ante a dificuldade significativa de Lis em discriminar, organizar e acolher seus afetos e suas experiências, o corpo se constituiu como principal via de comunicação entre analista e analisanda. A análise do caso sinalizou que o corpo ancorava marcas do excesso pulsional traumático e aparecia como palco de experiências primitivas. Dessa forma, a pesquisa apontou para a indissociabilidade entre o campo analítico e a problemática do corpo, testemunha dos não ditos e do que escapa ao discurso simbólico do sujeito.
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